Falta moedas em Brasília-DF

Os cofrinhos de moeda dos brasilienses estão mais cheios do que os caixas dos estabelecimentos. Isso
faz com que lugares como cartórios e lojas de R$ 1,99 tenham dificuldades em dar troco e até tenham pequenos prejuízos. Segundo especialistas, a falta das unidades no mercado não afeta diretamente a economia, mas causa transtornos e obriga o Banco Central (BC) a adotar novas medidas para não perder dinheiro com a produção.
Conforme o BC, em 2016 já foram disponibilizadas 71 milhões de novas moedas, totalizando 23,9

bilhões em circulação, o equivalente a R$ 5,98 bilhões. Apesar dos números expressivos – 118 unidades por habitante - a autarquia admite que, desde 2014, a produção foi impactada “pela necessidade de redução da despesa pública”.
O valor menos encontrado é o de R$ 0,01. Não apenas as unidades são a de menor quantidade em circulação, como as pessoas tendem a guardá-las por muito tempo ou mesmo jogar fora, muitas vezes inadvertidamente.
Lojinhas de R$ 1,85
O estabelecimento que Henrique Cruvinel Borges, de 74 anos, ajuda a administrar só é conhecido como “lojinha de R$ 1,99”. Mas, na prática, o dono teve de retabelar seus preços para valores arredondados. “Ainda tem gente que vem e reclama que se não há moeda para dar de volta, a gente devia tirar os centavos do preço”, revela.
Borges mora em Brasília desde 1961, quando a moeda vigente era o Cruzeiro. Ele acompanhou as mudanças para Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo e Cruzeiro Real antes de, em 1994, a economia ter se estabelecido com o Real. Nesse período, ele garante não se recordar de situação semelhante com as unidades de menor valor. Segundo ele, no cenário atual há mais conflitos entre clientes e comerciantes.
Negociação com os clientes
O presidente da Associação dos Notários e Registradores do Distrito Federal (Anoreg-DF), Allan
Nunes Guerra, garante que os cartórios também têm sofrido com a falta de troco há pelo menos três anos. “A gente resolve cada caso ali no balcão mesmo. É comum não conseguirmos dar o valor exato por falta de centavos”, diz.
Apesar disso, ele se recorda de um único caso que tenha gerado constrangimento. Há dois anos, no Núcleo Bandeirante, um senhor teria se recusado a receber três centavos a mais. “Ele insistiu que queria ter os dois centavos como troco de um pagamento e não quis aceitar quando a atendente entregou cinco. Teve uma discussão, mas é o mais grave que já aconteceu”, relata.
Guerra diz que uma tentativa de amenizar o problema foi solicitar ao Tribunal de Justiça do DF e
Territórios (TJDFT) a atualização da tabela de preços dos estabelecimentos a fim de facilitar as devoluções de dinheiro. O pedido foi acatado e entrou em vigor em 1º de janeiro de 2015, quando o órgão decidiu pelo arredondamento dos valores praticados nos cartórios, conforme a resolução nº 3/2014
No cartório do 2º Ofício de Registro Civil, na 504 Sul, a assistente Nara Cristian Amaral, de 39 anos, disse ter presenciado casos similares ao relatado por Guerra. A solução é trocar notas por moedas em agências bancárias próximas. “A gente tem de ficar carregando o dinheiro e indo até lá, como clientes comuns mesmo, então não é seguro”, revela.
O microempresário Átila Morais Sousa, de 48 anos, levou sua moeda para pagar despesa no cartório e acredita que todos deveriam prestar atenção a isso.
O custo para produção é elevado
O membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), José Luiz Pagnussat, avalia não existir
impacto significativo na economia pela redução na quantidade de unidades em circulação. Para ele, o mal gerado é no conforto do consumidor e do lojista, que precisam superar as dificuldades e chegar a um acordo quanto ao troco.
“A falta de moedas se deve ao comportamento do brasileiro de guardar em casa, de acumular moeda”, sentencia o especialista. “O custo de produção de cada moeda é elevado, daí a razão de o Banco Central não querer gastar com a produção atualmente”, complementa. Ele acredita existirem moedas suficientes no mercado.
Traço cultural
Pagnussat vê na atitude do brasileiro de guardar os centavos um traço cultural que precisa ser
trabalhado. “É simbólico colocar a moeda no porquinho, pois representa poupança, representa ter dinheiro sobrando”, explica. O economista, porém, alerta para o problema gerado. “Todos precisam se resguardar para garantir seus futuros, então é uma prática interessante do ponto de vista doméstico. Mas existe essa consequência de gerar mais demanda no mercado e o Banco Central não poder atender”, completa.
Em 2014, o custo para fabricar cada moeda de 1 centavo e de 5 centavos era de seis centavos.
Saiba mais
As moedas de um centavo, cada dia menos lembradas pelo consumidor ao fazer uma compra, são as
de menor quantidade em circulação, conforme balanco do BC até o último dia 23.
Conforme a autarquia, das 18 bilhões de moedas não comemorativas ou especiais em circulação, 1,2 bilhão eram unidades no valor de um centavo. As de maior circulação são as de dez centavos, com quase 5 bilhões de unidades ativas.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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