Morte de negros em Brasília ,Distrito Federal
Até porque os desdobramentos dessas mortes não terminam na hora em que o corpo é enterrado. “Eles geram gastos em termos de medicina legal, inquérito policial, acionamento do Judiciário e do Ministério Público, gerando uma sensação de insegurança. Há também o impacto na saúde mental da família, porque é uma onda de devastação que prejudica a todos”, garante Ortegal.
Jeane Pereira, 23 anos, está sendo obrigada a lidar com esse choque emocional. Ela tem 23 anos e dois filhos. A mais nova, Juliana, de apenas 1 mês, não chegou a ver o pai vivo. André Luiz Aguiar Rodrigues morreu em dezembro do ano passado, aos 23 anos. De acordo com Jeane, ele foi assassinado depois que bateu o carro na moto de um homem, na Estrutural. “Quando a gente foi atrás do dinheiro para pagar o que quebrou dela, esse cara veio por trás e esfaqueou meu marido”, lembra. Jeane agora está vivendo com a família de André. Sem poder trabalhar, já que a filha menor ainda é muito nova, a jovem está em um momento em que não sabe o que fazer da vida. “Eu tenho medo. Estou recebendo ajuda, mas não sei como vai ser daqui para a frente.”
O que será deles?
Com as mãos para trás e a cabeça baixa, Caio*, 16 anos, um dos internos da Unidade de Internação de São Sebastião, chega para conversar com a reportagem. Falando rápido, o garoto franzino e de dentes proeminentes não nega: está ali porque não encontrava oportunidades. “Eu tentava procurar emprego, mas sempre me achavam novo demais. Então, decidi procurar outra forma de ganhar dinheiro.” No começo, a facilidade o surpreendeu.
As benesses chegavam sem esforço e, mesmo com os avisos dos familiares, ele não achava que corria riscos — afinal, pensava, era menor de idade. Há um ano e oito meses na instituição, seu pensamento mudou. “Essa história de que a gente não fica preso é mentira. Só em ficar longe da família já mostra que a gente está preso também. Quando cheguei aqui, tinha só 14 anos. Agora, vou fazer 17. Tenho que dar mais valor para minha mãe”, reflete.
Quando sair do sistema de sanções imposto aos adolescentes infratores, Caio vislumbra emprego e outros sonhos. A esperança que ele nutre é míster também para o futuro do Distrito Federal. O Estado precisa garantir, além da sobrevivência dele, a ressocialização.
Caso também de Augusto*. Aos 17 anos, está há três meses internado em São Sebastião. E garante que essa passagem pelo sistema não mudou em nada seu desejo de estudar direito para tornar-se um delegado. “Moro com meus tios e lá em casa temos livros de direito até em cima da geladeira. Tenho certeza que vou conseguir realizar esse sonho. Tive que adiar um pouco, mas tenho o apoio da minha família, conversamos sobre isso e eles me disseram que vão fazer tudo o que for necessário para que eu conquiste isso.”
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