O CERRADO DO VARJÃO PEDE , NÃO DESTRUA COM FOGO
A Temperatura do AR
A Transferência de Nutrientes
Outro efeito do fogo, de grande importância ecológica para os Cerrados, é a aceleração da remineralização da biomassa e a transferência dos nutrientes minerais nela existentes para a superfície do solo, sob a forma de cinzas. Desta forma, nutrientes que estavam imobilizados na palha seca e morta, inúteis portanto, são devolvidos rapidamente ao solo e colocados à disposição das raízes. Existem hoje indicações de que estes nutrientes, uma vez na superfície do solo, não são profundamente lixiviados pela água das chuvas, mas, ao contrário, seriam rápida e avidamente reabsorvidos pelos sistemas radiculares mais superficiais, principalmente do estrato herbáceo. De certa forma, o fogo transferiria nutrientes do estrato lenhoso para o herbáceo, beneficiando a este último.Todavia, durante uma queimada nem todos os nutrientes vão obrigatoriamente para a superfície do solo, sob a forma de cinzas. Grande parte deles é perdida para a atmosfera como fumaça. Cerca de 95% do N presente na fitomassa combustível volatilizam-se, retornando à atmosfera como gás. A metade dos outros nutrientes, como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxôfre entra em suspensão no ar sob a forma de micropartículas de cinza, constituindo a parte visível da fumaça. Assim, a grande perda de nutrientes provocada pelo fogo reside nesta forma de transferência para a atmosfera e não na lixiviação dentro do solo, como se imaginava. A névoa seca que escurece os céus do Brasil Central na época das queimadas (julho, agosto) é uma demonstração visível dessa enorme perda de nutrientes. Numa estimativa grosseira, poderíamos dizer que o Parque Nacional das Emas, com seus 131.832 ha de Cerrado, queimados integralmente no ano de 1994, perdeu para a atmosfera algo em torno de 3.000 T de nitrogênio, 220 T de fósforo, 1.000 T de potássio, 1.800 T de cálcio, 400 T de magnésio, 450 T de enxôfre, totalizando cerca de 6.800 T de nutrientes minerais sob forma elementar.
Fisionomia e Estrutura da Vegetação
Dentre os efeitos bióticos do fogo no cerrado, um dos mais notáveis é a sua ação transformadora da fisionomia e da estrutura da vegetação. Lund, o mesmo que descobriu o Homem das cavernas de Lagoa Santa, amigo de Warming, já dizia: "Foram as queimas que transformaram as catanduvas" (termo tupí para cerradão) "em cerrados e campos limpos...". Como a vegetação lenhosa, embora tolerante, é bem mais sensível à ação do fogo, queimadas freqüentes acabam por reduzir substancialmente a manutenção e a renovação das árvores e arbustos, diminuindo progressivamente sua densidade. Em conseqüência, cerradões acabam por abrir sua fisionomia, transformando-se em campos cerrados, campos sujos ou até campos limpos. Assim, como o fogo freqüentemente abre a vegetação lenhosa, a proteção contra ele permite o inverso, isto é, campos sujos, por exemplo, podem transformar-se em cerradões depois de algumas décadas. Se em um Parque Nacional, quizermos manter a maior biodiversidade, em termos de fisionomia e de riqueza em espécies, diferentes regimes de queimadas deveriam ser utilizados como forma de manejo, em distintas parcelas.Característica sempre ressaltada para as árvores do Cerrado é a acentuada tortuosidade de seus troncos e ramos. Em muitos casos este fato pode ser considerado como um efeito do fogo no crescimento dos caules, impedindo-os de se tornarem retilíneos, monopodiais. Pelas mortes de sucessivas gemas terminais e brotamento de gemas laterais, o caule acaba tomando uma aparência tortuosa, simpodial. Quando as queimadas são muito freqüentes, a parte aérea da árvore pode não conseguir desenvolver-se normalmente e então o indivíduo torna-se anão.
A espêssa camada de súber que envolve troncos e galhos no Cerrado é outra característica do estrato arbóreo/arbustivo interpretada como uma adaptação ao fogo. Agindo como isolante térmico, o súber impediria que as altas temperaturas das labaredas atingissem os tecidos vivos mais internos dos caules. Esta proteção todavia, nem sempre deve ser muito eficaz, uma vez que este estrato da vegetação é mais suceptível à ação destruidora do fogo no Cerrado.
O Rebrotamento e a Floração
A própria germinação das sementes pode ser facilitada pelo fogo. Há espécies em que a testa das sementes é impermeável à água. A brusca e rápida elevação da temperatura em uma queimada pode provocar o aparecimento de fissuras na casca da semente e assim torná-la permeável, favorecendo sua germinação.
A vegetação dos Cerrados é, pois, constituida por espécies pirofíticas, isto é, adaptadas a uma condição ambiental que inclui a presença do fogo. Elas conviveram com ele durante a sua evolução, sendo selecionadas por este fator. Muitas delas chegam a exigir a ocorrência de queimadas periódicas para a sua sobrevivência e reprodução. O fogo as revigora e aumenta seu poder competitivo. É claro que as várias formas de cerrado não têm as mesmas exigências. O cerradão, floresta de tipo tropical estacional, é menos tolerante às queimadas. Assim, se quizermos preservá-lo não devemos usar o fogo. Já um campo limpo ou um campo sujo podem necessitar das queimadas para sua estabilização e conservação.
Efeitos do Fogo Sobre a Fauna
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